DEMOCRACIA O
ESCAMBAU
Se existe
uma coisa que me deixa profundamente enfurecido é o assédio moral que a
democracia sofre em tempos de eleições. Tudo é motivo para dizer que vivemos
num país onde as eleições são livres, cada cidadão vale o poder do seu voto e
outras baboseiras da mesma natureza. Viva a democracia.
Se
juntar alguns malucos crescidos à sombra da desonestidade, sob o arrepio da
lei, proclamar com Bíblias embaixo dos braços suas bobagens e uma cópia da
Carta Magna do Brasil, hoje transformada em apenas um caderninho de anotações,
frente ao assalto que esse país vem sendo vítima desde os tempos de D Pedro II,
saúde. Brindemos a demos kratos.
Sua
corte imbecilizada com tantos Condes, Condessas, Barões, Duques que só serviam
para despejar seus dejetos de nobreza com o povo e a capacidade produtiva do
País pagando a conta, inclusive do nobre D. Pedro II que foi o precursor de
regimes maquinizados por gatunagem e corrupção.
Vá
lá. Aquele tempo era um reinado e hoje vivemos sob o manto protetor do regime
presidencialista, uma Constituição, direitos à liberdade de expressão e vai por
aí afora.
Democracia,
pensamos.....ah é o direto ao voto! Votar é importantíssimo. O maior ícone escolhido para representar o
regime de governo do povo para o povo e em nome deste.
Parafraseando
Manoel Gonçalves Ferreira Filho, ex-professor da Universidade de Direito do
Largo de São Francisco:
Para que o individuo
possa se governar por si no mundo, exige
o direito universal que atinja numa certa idade que
faz presumir seu
amadurecimento. Da mesma forma, para
que um povo possa se
governar, é preciso que atinja certo
grau de maturidade que
não se resume na maioridade de
seus membros, os
eleitores.
Para
atingir essa maturidade, amigos, Ferreira Filho apresentou em passagem
subsequente à citada acima, uma receita de bolo da Vovó Cotinha, muito simples
que afirmou basicamente os mesmos preceitos quando da revolução de 1964
estourou no País.
Disse
ele:
“O
governo do povo pelo povo pressupõe em primeiro lugar certo nível cultural (e
não apenas certo nível de alfabetização desse povo (...) que se liberte de
comportamentos impostos por tradições e tabus que o induzam ao conformismo
(...) esteja livre de dominações tradicionais que o prendam a chefes como clientes,
ou vassalos (...) que tenha um mínimo de instrução que o habilite a compreender
e apreciar a informação (...) que tenha senso de responsabilidade, tolerância e
respeito pelos dissidentes. Importa, enfim, que tenha um mínimo de experiência
no trato da coisa pública”.
Em
minha opinião quando esses ingredientes simplesmente não existem e nem
resquícios de “amadurecimento social” ou desenvolvimento econômico sustentador
da nação, capacitam o povo para assumir finalmente seu destino?
Onde
isso não é encontrado, os ingredientes desse bolo, ou o povo só se governa na
aparência ou se governa com resultados desastrosos para os quais o remédio é a
simples ditadura.
Assim
também pensava Ferreira Filho.
Democracia
é sinônimo de liberdade? Sim, claro. Mas não é excludente a responsabilidade
nem importa em licença para contrariar a própria vocação política brasileira.
Vejo
hoje milhares de horrorosos tripés com pessoas afinadas na feição em algum
programa de alteração de imagem (foto shop) para tirar essa ou aquela
imperfeição, mas não um que conserte ou restaure a incapacidade natural, a
improbidade, a desonestidade de berço, nem consiga eliminar as vocações
dinâmicas e presentes para enrolar o eleitor e trazer-lhe um paraíso que nem
Deus teria esse poder. “Vota ne mim porque sô u bom. Chico da Ferradura nr.
NONONONO”.
Tudo
azul na América do Sul? Claro que não.
Exercer
democracia não é sair votando e as TVs exibindo aquelas ridículas cenas de
velhinhos alquebrados se arrastando pelo chão proclamando que isso sim é
democracia e que ela ou ele não abre mão disso. Tolice geral. Patético.
Democracia
é, sobretudo, divisão de responsabilidades. Olha a nossa escolha para
presidente, por exemplo. Três grandes decepções. Temos que escolher uma ou
jogar o voto fora.
Que
futuro democrático teremos, nós brasileiros, sem os baluartes que sustentam
essa tal democracia de araque, onde o resultado do futebol é saborosamente mais
disputado nas rodas de conversa do que o safado do prefeito da cidade Alfabeta
que promete construir uma escola e gasta para isso recursos que dariam para
erigir duas grandes universidades?
O
show da democracia não é essa bobagem de voto não.
O
verdadeiro espetáculo da democracia seria eliminar a velhacaria potiqueira
brasileira no voto retirando para sempre fichados na polícia, ladrões de
“capivaras” quilométricas, facínoras em geral, traficantes de drogas que se
travestem de candidatos puros como anjos. Desaparecer da face democrática
brasileira os palhaços que se apresentam como candidatos só para o trouxa do
eleitor votar em sua legenda e colocar no poder mais alguns macacos bem
treinados em nos roubar.
O
final do ato democrático não é a contagem rápida dos votos para sair nos
jornais do mundo que temos a mais ligeira apuração. Isso não é democracia. Não
confundir com tecnologia. Ela sim permite isso não a democracia.
O
povo escravizado pela burrice, estapeado todos os dias com todo tipo de atos
espúrios, a maioria deles idealizados e assinados pelos nossos governantes e
representantes que nos querem no limbo como massa de manobra. Sem educação
moral, cívica, sem educação política que confunde o mocinho com o bandido e
sempre escolhe o que tem a maior recompensa pela sua captura. Vivo ou morto
como no velho Oeste.
Um
povo que morre feito moscas nos corredores dos fétidos hospitais brasileiros e
onde um voto vale uma bolsa família. Que esperança nós podemos ter em construir
algo sólido, como uma verdadeira democracia, em solo tão lamacento e
escorregadio, cheio de substâncias podres e que estão no poder desde o tempo em
que Pedro Alvares Cabral soltava lá suas pipas ao vento?
Democracia
começa-se assim. A crítica em primeiro lugar, depois a conscientização de que o
povo brasileiro é, em sua grande maioria, um gado solto
sem dono no pasto e vota no primeiro que balançar capim na cerca de arame
farpado.
É
isso. Quem tiver melhores argumentos estou pronto para acender o estopim de
acalorados debates. Sou um tolo ainda preocupado com nosso futuro que já se foi,
desde quando eleitores desavisados escolheram velhos patifes para nos
representar lá atrás, ainda no tempo da cera Parquetina e do elixir Paregórico
que curava até perna de pau.
Este
é sem duvida o pior momento político nacional com trevas no horizonte para onde
quer que se olhe. Por favor, alguém ai tem um pouco do colírio alucinógeno do
Jose Simão para emprestar? Quem sabe algumas alegorias coloridas me fariam bem
a alma.