JORNAL PENA LIVRE
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segunda-feira, 1 de março de 2010
JUSTA HOMENAGEM A UM AUTÊNTICO BRASILEIRO
Pergunto:
- Deus, com toda a sua divina sabedoria infinita, não poderia ter escolhido uma outra pessoa para subir aos céus neste final de semana ao invés deste grande homem? Talvez um político de Brasília para arder eternamente no fogo do inferno.
- Meu filho, estou cansado de receber gentalha no céu. Queria algo que fosse enriquecer meu paraíso, transformá-lo num lugar mais aprazível, mais ainda do que já o é.
- Deus, será que não daria para mandar mais alguns homens como ele aqui para baixo? Nos faz tanta falta uma personalidade e caráter como o dele que o Senhor não faz idéia.
- Meu filho não dá. Isso é safra especial. Não tenho muitos homens assim em minha reserva, mas prometo que nas próximas oportunidades mandarei alguém da estirpe dele, José Mindlin que está aqui comigo organizando nossa celestial biblioteca. Abençoados sejam os homens que tiveram essa coleção de virtudes, tal como ele teve.
O Brasil perdeu um baluarte cultural neste triste final de semana. Morreu José Mindlin, homem culto, colecionador de livros e proprietário de uma das maiores bibliotecas particulares do mundo, benemérito, filantropo de carteirinha, gentil, extremamente preocupado com o saber e o conhecimento que se podia transmitir às gerações futuras.
Eu o apelidei carinhosamente de Mindoim sempre que me referia a ele.
José Ephim Mindlin nasceu em São Paulo em 1914 era filho do dentista Ephim Mindlim e de Fanny Mindlin, judeus nascidos em Odessa. Era formado em direito, atividade que abandonou para fundar a empresa Metal Leve que mais tarde se tornou uma potência nacional no setor de auto peças.
Após sua aposentadoria do mundo empresarial, Mindlin pôde dedicar-se integralmente a uma paixão que tinha desde os treze anos de idade: colecionar livros raros. Seu primeiro livro foi Discours sur l'Histoire universelle de Jacques-Benigne Bossuet, de 1740. Ao completar 95 anos de idade, acumulava um acervo de aproximadamente 40 mil volumes, incluindo obras de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários (originais e provas tipográficas), periódicos, livros científicos e didáticos, iconografia e livros de artistas (gravuras). É considerada como a mais importante biblioteca privada do gênero, no Brasil e uma das maiores do mundo.
Que belo exemplo de brasileiro. Ah! Como gostaria de aparecessem milhões como ele aqui no Brasil nessa ilha onde estamos cercados por um ataque maciço de mediocridade e imbecilidade.
A relação dos homens com os livros, em particular a dos bibliófilos, aqueles que por eles se apaixonam, passa por três etapas distintas: na primeira, os homens pensam que conseguirão devorar a leitura de um número de livros maior do que de fato é possível a um ser humano.
Num segundo momento, conseqüência imediata da primeira etapa, os homens passam a desejar ter em mãos o maior número possível de obras dos autores que mais apreciam.
A etapa final surge o interesse pelas primeiras edições, geralmente raras e caras, e a atração pelo livro como objeto de arte. Esta última fase é definida pelo mais célebre bibliófilo brasileiro, o empresário paulista José Mindlin, como perdição. "Quando se chega a esse estágio, aquele que pensava em ser na vida apenas um leitor metódico está irremediavelmente perdido", confessa Mindlin. O ataque virótico, doce, aliás, – está instalado em definitivo. Essa tese é defendida logo na abertura de Uma vida entre livros – reencontros com o tempo (Edusp-Companhia das Letras, 214 págs. R$ 42), texto confessional e ao mesmo tempo uma espécie discreta de autobiografia intelectual, onde Mindoim conta a sua história de paixão pela literatura.
Morreu e não conseguiu realizar seu sonho, ou pelo menos vê-lo concretizado – a montagem da biblioteca dentro da USP para conter todo o seu acerco.
Cumpre-me ressaltar que a impotência cerebral atinge também as Universidades como um todo, por conta da lambança que a própria USP fez quando recebeu pela primeira vez a oferta de Mindoim na totalidade da coleção.
A Universidade de São Paulo demorou uma eternidade para responder que sim. Imaginem só.
Se fosse um outro país haveria uma fila tão grande de pretendentes que daria volta no quarteirão. Todos querendo ficar como acervo e construir uma bela biblioteca para que qualquer interessado pudesse ter acesso ao vasto material.
A USP fez-se de rogada e enrolou durante algum tempo pensando sei lá eu no que para dar a resposta positiva.
O Brasil perde muito com Mindoim. Um país se faz com homens e livros, dizia Monteiro Lobato. Livros nós já os temos de montão, já homens...
Num oceano imenso de tanta ignorância característica notável do Brasil de hoje, um lodaçal de tanta hipocrisia a nos afundar como as enchentes da cidade de São Paulo, uma época de homúnculos públicos que propagam ao vento que estudo e conhecimento não vale a pena, que a leitura de qualquer livro é pura bobagem, Mindoim era um foco de luz brilhante, que ora se apaga para nossa infelicidade.
Na minha lista de pessoas candidatas ao céu, o grande bibliófilo certamente estaria segurando a lanterninha. Deus quis assim para que ele também pudesse saborear uma soberba criação à sua imagem e semelhança representando o que tem de melhor no divino para nos oferecer.
Fica a divindade terrestre da santa mediocridade a nos governar e transformar tudo em excrementos reluzentes. Que falta vai fazer Mindoim, pelo menos para mim.
Como aqui exemplos como esse não valem nada creio que nem mesmo uma pracinha receberá a justa homenagem de ter o nome dele marcado para a eternidade.
Não duvido se batizarem a biblioteca deste grande brasileiro, em construção dentro da USP, com o nome de alguma celebridade oriunda do BBB edição 2010. Próprio do Brasil.
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