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quinta-feira, 2 de setembro de 2010















BRASIL EM CHAMAS

Só nos preocupamos, de fato, quando a água bate na cintura e perguntamos a nós mesmos: - serei capaz de nadar?
O mesmo vale para o fogo. As pessoas se assustam quando observam suas propriedades que ardem em chamas e pensam naquele momento como seria bom ter tomado essa ou aquela medida preventiva.
O brasileiro, em geral, conta o gado depois que fugiu cerca afora pelo pasto. Ai o dono vai chorar amargamente as reses que deram no pé.
Estamos vivendo de norte a sul as agruras do El Ninha, um aquecimento anormal do oceano Pacífico na altura do norte da América do Sul o que draga de forma catastrófica toda a umidade que seria destinada à formação de nuvens e chuvas em nosso território.
O pantanal está seco quase completamente e nunca esteve assim desde 1929.
A Amazônia também. Há rios que já secaram, tal como acontece no nordeste.
O sudeste está mergulhado numa capsula seca e quente impedindo qualquer precipitação atmosférica.
Os brasileiros não se aperceberam ainda da tragédia grega que se anuncia com falta de alimentos, alta da carne, dos hortifrutigranjeiros e um índice alarmante de casos de doenças ligadas ao clima seco.
Observa-se de fio a pavio no País uma síndrome de queimadas criminosas colocando ainda mais lenha na fogueira do clima. O mais grave acontece nos estados de Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Mato Grosso no norte.
Os estados acima representam a fronteira agrícola do Brasil e a criação de gado em larga escala. Existe a medieval política de tocar fogo em tudo para liberar pastagens ou para renová-la.
Aqui no sudeste incêndios criminosos no Rio e em São Paulo e os vinculados às estradas, normalmente ocasionados pelas infames bitucas de cigarro acesas que são jogadas placidamente através das janelas dos veículos dos fumadores.
Em Piracicaba, por exemplo, dia 14 de agosto, sábado, sobrevivemos a um dia vulcânico na cidade. A Secretaria estadual do Meio Ambiente estava para determinar a interrupção das queimadas de cana de açúcar na região.
Os moedores (usinas e afins) correram pressionar seus fornecedores a queimar tudo antes da determinação oficial para aproveitar o máximo de produção. Piracicaba mergulhou num mar de cinzas sem precedentes emporcalhando a cidade inteira. A proeza das usinas e grandes grupos do setor sucroalcooleiro fez com que explodisse na cidade inteira um surto de efeitos físicos colaterais nas pessoas, principalmente as crianças entupindo o setor de saúde do município e região levando-o à exaustão.
Um dos jornais de grande circulação em São Paulo exibiu na semana passada, em uma de suas manchetes, uma foto de primeira página mostrando de cima de um helicóptero uma paisagem de São Paulo exibindo uma capa escura (marrom) de poluição como eu nunca tinha visto antes.
Respira-se um ar corroído por milhões de partículas em suspensão e gases tóxicos transformando nossos pulmões numa usina de processamento de lixo aéreo.
A culpa é do “El Ninha” apressam-se os entendidos em tempo. Estão certos. Afinal de contas o fenômeno é real e previsível.
O que não pode ser aceito, entretanto, é que boa parte dos brasileiros esteja incinerando o país de norte a sul numa atitude que trará efeitos colaterais terríveis: falta de alimentos, alta do preço da carne (já um fato), inflação, acometimento de doenças crônicas. E será a camada da população mais pobre que pagará a conta: vai comer de menos e morrer mais cedo pela falta de cuidados médicos das crianças, sobretudo.
O Estado exime-se da culpa do crime ambiental. Apressa-se em retirar o lombo da siringa quando o assunto é assumir uma política hiper séria de combater as queimadas numa atitude pré-medieval face as novas e modernas técnicas de manuseio da terra.
Na cidade o governo incentiva o transporte solitário ao invés do solidário e coletivo. Juscelino deixou essa inclinação assassina para o meio ambiente, quanto mais carros tanto melhor, deixando de lado e destruindo outros meios de transporte de massa como o trem aniquilado muitos séculos atrás.
As cidades se afogam na fumaça tanto fabricada no local como importada pelos ventos que trazem ainda mais fumaça e detritos para dentro do nosso corpo.
Aquela música que diz que aqui vai virar sertão está se consumindo e o sertão vai virar mar na sequência.
Cadê meu jegue?

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