CHUVA DE VERGONHA NA CARA
Desde o desembarque da nau de Noé que
o Brasil passa apertado quando chegam as chuvas de verão.
Entra ano, sai ano, século vem,
século vai a triste novela malhação do Judas tem um script milimetricamente
definido para a história percorrer seu caminho.
Primeiro, claro, São Pedro abre as
torneiras no verão brasileiro.
Como o clima da Terra está mais louco
que Mané Chico Doido, chove muito onde não chovia nada, chove nada onde deveria
chover todo santo dia, tempestades de arrancar postes do lugar, furacões,
tufões nunca vistos antes por essas paragens.
Quem mais sofre com essas águas de
verão são os estados do Sudeste no rastro da tal zona de convergência do
Atlântico Sul, na verdade uma área imensa onde a umidade da Amazônia percorre
rumo sudeste até as margens das praias dos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro, Espírito Santo, Paraná.
A novela da tragédia escreve seu
segundo capítulo na atuação de São Pedro derramando baldes cheios de água, especialmente
nas zonas onde há rios, planícies inundáveis, encostas perigosas, terrenos de
difícil escoamento pluvial ou zonas de transição com as correntezas arrancando
prédios de suas fundações arrastando-os para lá de Deus me livre.
O enredo segue com os capítulos mais
sangrentos da história neste ponto: gente morta, casas destruídas, móveis
naufragando a céu aberto, encostas soterrando dezenas de pessoas.
O saldo é contabilizado numa
aritmética macabra que sobe ano após ano.
Doações para cá, bombeiros correndo
para todos os cantos, cadáveres para enterrar, gente chorando a se desesperar
perdendo tudo literalmente. Só a roupa do corpo normalmente sobra para contar.
Plim Plim. Que entrem os comerciais,
por favor.
Plim Plim. Voltamos à nossa
programação normal que faz surgir na fita e nos noticiários os velhos
governantes de sempre, donos das mais horríveis caras lavadas e polidas com a
mais fina camada de óleo de peroba prometendo fundos e mundos, mas sempre
mandando a conta para São Pedro pagar.
Prometem acabar com as águas, construir
barragens, pontes, casas novas.
Qual nada.
Na onda das águas e corredeiras
surgem os formosos helicópteros reluzentes com Dilma e seus Blue Caps rugindo
suas turbinas para ver de cima o circo pegar fogo. Lá de cima. Lá embaixo só
cabe o povo.
Quando descem de novo prometem o
paraíso e o céu sem nuvens.
As doações, milhões de doações acabam
sendo moeda de barganha nas mãos das prefeituras comandadas por abutres
aproveitadores. Já foram registrados casos em que o prefeito “X” montou até um
supermercado utilizando as doações como estoque.
Móveis, fogões, geladeiras, sofás,
televisões doadas são direcionadas para as casas de praia de algumas dessas
aves de rapina, ou terminam como sucata num galpão fechado e lacrado sabe-se lá
por que.
Terminadas as chuvas as famílias
voltam a comprar tudo o que as chuvas levaram. Nesse momento da memória alguém
busca ainda o som do sobrevoo dos seus governantes que sumiram após a última
gota de chuva secar.
Tudo volta ao “normal”. Gente se
empoleirando em escarpas prontas para o próximo desastre porque as prefeituras
não tem qualquer política de zoneamento e de proteção ao cidadão preferindo
sempre esperar para ver as mortes chegarem mais uma vez em 2014, 2015,
2016.....
Tudo esquecido e dá-lhe construir
mais um conjunto de edifícios em cima de um lixão abandonado para amanhã haver
centenas de pessoas debaixo do entulho, porque é assim que são classificadas
diariamente.
Um entulho que os governantes se
cansam de administrar e que seria melhor mesmo se morresse para dar-lhe o
sossego merecido.
Os munícipes se prestam mesmo apenas
para pagar impostos.
Falta chover vergonha.
Falta relampejar ética.
Falta a cachoeira de solidariedade,
amor ao próximo e respeito.
E, sobretudo, falta cadeia para esses
assassinos de terno, gravata ou um belo vestido turquesa, carece haver
guilhotinas para cortar os pescoços desses que roubam de pobres, crianças e
famílias vítimas de catástrofes.
A lâmina trabalhando cortando cabeças
no cesto em alta velocidade poderia servir de alento no futuro e exemplo para
quem tiver queda para praticar crimes dessa natureza.
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