O mais comentado assunto da semana diz respeito a uma professora do estado da Bahia de ensino fundamental, que foi demitida pela escola onde trabalhava por causa de um vídeo onde aparece num palco dançando ao som de música funk.
O flagrante aconteceu durante uma apresentação do grupo de pagode O Troco em Salvador, que costuma convidar meninas da platéia para subir ao palco e fazer a coreografia da música "Todo enfiado".
A professora J.C. é formada em pedagogia e faz pós-graduação na área e dava aulas de alfabetização para crianças de cinco anos em uma escola particular da capital baiana. Com a divulgação do vídeo na internet ela foi demitida.
Após ter sido convidada para subir ao palco, a professora em companhia de mais algumas meninas da platéia, o integrante do grupelho musical, o vocalista Mario Brasil, começou a entoar a música “Todo enfiado” fazendo apologia para que as moças erguessem seus vestidos ou tirassem suas calças, levantassem suas calcinhas nádegas acima, como se fosse um pequenino fio dental, causando inveja à dança da boquinha da garrafa. O próprio Mario Brasil fez o trabalho ajudando a professora a exibir-se numa dança degradante prejudicando sua imagem de educadora.
Programas pelo Brasil afora começaram a evocar o juridiquês da demissão da professora, a discussão moral da coisa toda, questões culturais envolvendo danças e musicas funk, a figura do sexo barato e sua banalização, enfim um arsenal que envolve uma suposta diversão inocente entre jovens por todas as cidades brasileiras.
No quero discutir moral nesse momento porque o Brasil não tem mais isso há muitos anos. A começar das quadrilhas de assaltantes, estelionatários e falsários que nos governam em todas as esferas do poder rasgando a ética definitivamente, cuspindo no código de leis e debochando de todo aspecto moral restante na cara de cada habitante desse País.
Quero abordar o sentido cultural. Sabidamente, os bailes funk, principalmente nas grandes cidades e capitais de alguns estados, são uma organela dentro de um poderoso esquema que envolve distribuição de drogas, apologia ao sexo banal, ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas, incentivo à formação de gangues atuando dentro dos salões para impor seus domínios territoriais.
Há quem defenda isso como uma espécie de movimento cultural no Rio de Janeiro. Assaltar bancos, bater carros e matar pessoas com bastante cachaça na cabeça podem ser também, dentro dessa ótica, considerados igualmente emanação de um movimento cultural diferente, ora porque não?
Já há tempos venho observando o comportamento dos jovens dentro das arapucas que rolam funk nos famosos bailes, geralmente, em bairros de periferia.
As meninas bebem alucinadamente e, ao som de músicas com apelo sexual, desnudam-se e passam a se comportar como cédulas de dinheiro em circulação onde qualquer um pode colocar a mão e gastar como quiser. Os meninos, acompanhados de um coquetel molotov de bebidas e tóxicos, ficam pirados vendo as cenas sexuais a céu aberto em evolução diante dos seus olhos e ao alcance das mãos alimentando seus desejos mais animais.
Lá pelas tantas ninguém mais é de ninguém e cada um “fica” com o que estiver mais próximo.
São cenas de verdadeiros filmes pornôs suecos hard core. Meninas fazendo sexo no banheiro, na quadra, encostadas nuas nas paredes sendo bolinadas por vários meninos ao mesmo tempo numa verdadeira orgia causando inveja a Sodoma e Gomorra, depois aparecem muitas grávidas inviabilizando a descoberta de quem é o verdadeiro pai da criança.
Enquanto isso no palco, as bandas chamam as meninas mais ousadas para exibirem suas carnes, muitas vezes completamente nuas, ao som de músicas que incentivam toda sorte de comportamento sexual invertido, desinibido, pervertido e totalmente desqualificado de sentido cultural como defendem alguns.
Os celulares acabam sendo pontes para que os vídeos desses bailes terminem sendo exibidos nos sites pelo mundo afora para todo mundo ver, inclusive crianças.
Azar da professora que foi pega e catapultada nacionalmente à condição imoral e sumariamente demitida da escola onde trabalhava e com certeza de forma merecida.
Tem quem defenda que o que o cidadão faz para se divertir não pode se misturar com a ocupação profissional deste.
Doce engano. Se assim fosse o juiz de direito também poderia assaltar bancos por diversão nos finais de semana e tudo bem. Ou os funcionários de um banco qualquer nas horas vagas praticando atos ilícitos e pelo estelionato enganando trouxas para dar uma espairada. É uma questão de exemplo.
Como uma cidadã, que se diz professora de educação infantil, pode agir desta forma e todos acharem natural dando um péssimo exemplo aos seus educandos?
Não gente isso não é natural. Lé com lé, cré com cré já dizia o velho ditado. Em quase toda cidade grande brasileira existem clubes prives onde as pessoas podem dançar da forma como dançou a professora baiana sem problema algum, podem até realizar toda uma gama de fantasias sexuais. O duro disso é que alguém pode estar filmando esse é o problema.
Uma certa apresentadora da tv brasileira encantou toda uma geração de baixinhos e baixinhas com suas músicas, moda e dança, mas todo mundo esquece que ela fez, quando jovem, filminhos pornôs inclusive fazendo apologia ao sexo com menores de idade e que acabou subindo na vida após ter aparecido ao lado de um ídolo do futebol como uma espécie da namoradinha de última hora.
A professora está segura financeiramente falando no futuro imediato. A apologia da bunda no Brasil a transformará na próxima capa da revista Playboy e desde já recebe polpudos cachês para falar sobre sua aventura em programas de tv e rádio. Seus quinze minutos de fama vão lhe render uma bela aposentadoria que jamais ela iria conseguir dando aulas. Tão logo seja possível poderá se tornar Ministra da Educação que tal?
Com o andar atual desta carruagem nada mais me impressiona. Temos uma coleção de lacaios e “santidades” dirigindo o Brasil desta forma não seria surpresa o bandido da Luz Vermelha virar selo dos Correios, bem como Lampião e Maria Bonita.
O episodio da professora baiana reforça uma tese de uma profunda necessidade de pensarmos como estancar uma degradação moral e cívica que infesta o Brasil de ponta a ponta. Desde as esferas mais altas do poder, até alcançar os palcos dos bailes funk a estrutura nacional da moralidade foi-se morro abaixo, a sanidade também, assim com a decência, a compostura, a civilidade e a legalidade.
Vale tudo. Tudo mesmo.
E, finalmente, ao assimilarmos essas questões praticadas com absoluta distorção como natural, estamos fadados eternamente a ser uma nação menor, sem expressão nenhuma, composta por seres de nível inferior adotando, infelizmente, um comportamento nocivo a reboque de uma sociedade que se completa na luxúria da ignóbil ignorância coletiva anunciando um fim próximo e triste.
Um Brasil que se vangloria de ter a dança da boquinha da garrafa como expressão cultural máxima é tudo, menos um País.
Magno Almeida Lopes, escritor e jornalista free-lancer, administrador de empresas com habilitação em negócios internacionais, tecnólogo de obras e solos, engenheiro de rede Lan, membro efetivo da academia Piracicabana de letras, MBA em comércio exterior. Piracicaba (SP), 01 de setembro de 2009.
Perfeito. Tirei todas as minhas duvidas sobre degradação moral e cívica aqui.
ResponderExcluirMuito obrigado.