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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010










O SHOW VAI COMEÇAR

Atenção senhoras e senhores! O show já vai começar. O maior espetáculo de entretenimento da terra, o show do século. Leões amestrados, focas, o cavalo bailarino, o povo bobão. Crischhhhh (barulho da antiga agulha no velho disco vinil fazendo aquele ruído estridente) O povo bobão?

Vai ter pipoca, algodão doce e o palhaço povão. O palhaço povão?

Isso mesmo o circo está localizado nas próximas eleições para presidente do Brasil. Um show que você não pode perder. Desconto para menores de cem anos de idade. O circo aceita vale refeição, vale motel, vale família e vale coxinha.

A lona estende-se pela planície do terreno, a pele do circo vai ganhando forma e altura com suas traves de aço, seus tirantes super resistentes para receber o público à espera de um show realmente emocionante.

Começa com a foca Serrinha. Originária dos oceanos paulistas a foca Serrinha tem muitos truques que serão mostrados no picadeiro: equilibrar uma moeda de cinco centavos no nariz, bambolear a bola plástica colorida, bater palminhas e fazer oic oic para toda a platéia que em delírio aplaudirá sonoramente.

Além disso, a foquinha esperta tem na manga do colete centenas de promessas de um mundo melhor, cheio de graça, alegria e a população sentindo-se segura, assistida, amparada. Serrinha vai levar muitos votos do público. Há sempre aquele ou aquela que acredita em duende e que receberá em troca um pirulito enorme com a foto da foquinha engraçada.

Logo depois haverá a apresentação da raposa ártica que veio diretamente dos calabouços da direita ou esquerda (ela nunca se define) chamada Jilminha Lulussefa. O público a verá exercitar-se sob os tapetes, esconder-se atrás do “homi” barbudo e inaugurar até penicos pelo Brasil afora. Apesar de todo o patrocínio, o show será certamente fraco sem direito e guloseimas no final. Raposinha sem graça, sem tempero mais parecida com picolé de chuchu. Nunca participou de nenhum espetáculo anterior como representante local de uma cidade qualquer, nem fez apresentações estaduais, nem federais, mas quer assumir o circo todo imaginando ter poder, honra e glória para sempre.

O show tem que continuar. Essa frase é famosa. Foi dita em 1950 por Irvin Feld quando era responsável pelo que era considerado o maior espetáculo da terra, o circo americano Ringling Bros, quando no caminho para uma outra cidade a composição ferroviária onde o circo era levado acidentou-se seriamente.

A lona do circo rasgou-se de uma forma irrecuperável. Mesmo assim, Feld montou somente as arenas e picadeiros, num total de nove, e sem qualquer cobertura o show teve hora e lugar para acontecer e o sucesso foi estrondoso.

No picadeiro das eleições deste ano para presidente os palhaços serão os mesmos de sempre, aqueles cujos impostos pagam a farra do boi, das cuecanças cheias de verdinha, das bolsas recheadas com o dinheiro do crime.

Vamos assistir ainda outras tantas atrações: o macaco Alkimia (outro tributo ao chuchu, será irmão da Jilminha Lulussefa?), as acrobatas Loloisa Milena e Marianinha Silva, os equilibristas Lenécio Treves, Betinho Freira e Biro Goma.

Acho que o publico vai começar a rasgar os ingressos. Show desse ninguém merece.

Tanto um como outro, o forte mesmo dessa galera são as mágicas, embora tenham sido contratados pelo circo para outros papéis.

Mágicas do Mister M que já demonstrou como funcionam a fundo. Sumiço de dinheiro, aparecimento de cargos, transformação de gentes miúdas em biliardários, via passe da varinha de condão, ocultação da verdade, a cartola dos impostos indecentes, a ciranda do toma lá dá cá e o povo palhaço e bobão vai continuar com o ingresso na mão sem direito a saúde, segurança e um país digno de nota.

Alguém ai se quiser me provar o contrário estou aberto ao diálogo. Mas, olhando pelo binóculo enxergo que o Brasil desta vez candidata-se a ser a bola da vez em tudo o que é decente e organizado numa sociedade que se alarga cada vez mais na classificação medieval.

Salve-se quem puder. Direita ou esquerda dá na mesma.

Pelo menos até o show chegar ao fim ainda dá tempo de boas risadas. O macaco Alkimia promete que em São Paulo nunca mais choverá assim tão tragicamente fazendo uma point venture com São Pedro que imagina ser parente do santo da cidade grande.

Jilminha Lulussefa vai de campanha a favor de tudo o que lembrar Lulalá, manterá os vales vagabundagem que alimenta o ócio de patuléia em geral. Loloisa Milena e Marianinha Silva, os equilibristas Lenécio Treves, Betinho Freira e Biro Goma nem sabem a que vieram ainda. Se prometerem alguma coisa será do tipo conversa prá boi dormir de porre. São oriundos de partidos nanicos ou comprometidos com toda sorte de pirotecnia circense que nem vale a pena ouvi-los.

O Brasil está roubado sem pai nem mãe para socorrer.

Nunca tivemos uma safra tão medíocre de candidatos. Nunca precisamos tanto de um homem de caráter, firmeza, sabedoria como agora. A Brasil carece de ter um verdadeiro patriota que domine a arte de trabalhar pelo bem comum e transforme de vez esse latifúndio numa fazenda produtiva, sem percalços das invasões, alucinações partidárias monarquistas e reacionárias, sem roubos e falcatruas, sem cuecas e meias cheias de vergonha e dólares.

Enquanto aguardamos a vinda do Messias salvador, o jeito é estourar uma pipoca quentinha, apreciar o algodão doce e assistirmos o circo pegar fogo que esperar que esse povo reaja como deveria ser é querer ver uma utopia longe demais.


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