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terça-feira, 16 de março de 2010



UM PAÍS CARTELIZADO – MÁFIA BRAZUCA

Chicago – EUA. Década de 40, século XX. A máfia dominava quase todas as operações ilegais na cidade, dividida em setores onde os “capo” eram os deuses senhores da vida e morte de muitas pessoas.
Nada escapava do controle do submundo do crime: bebidas, prostituição, carga e descarga nos portos a cargo dos sindicatos ligados à máfia, drogas, apostas em cavalos, brigas de galo e até o futebol americano.
Essa era terminou com Capone (capo dos capos) preso por sonegação do imposto de renda que deu mote à serie de TV “ Os intocáveis” e o todo poderoso policial de alfândega Eliot Ness.
Chicago dos bons tempos de gangsterismo, das fortunas fáceis à custa do crime, estacionou no Brasil e aqui veio para ficar.
Nosso cotidiano sofre com intervenções dos diversos tipos de gangsteres, máfias de toda sorte, esqueminhas aqui e acolá, cartéis e monopólios.
Vamos agora pegar nosso avião e dar uma circulada no Brasil sem colocarmos os braços para fora acaso não queiramos perder nossos relógios de pulso.
Nossa primeira parada nesta viagem ao insólito. Chegamos ao Rio de Janeiro, terra do sol, da loira de Ipanema, do calor abrasador da baixada fluminense.
Este talvez o caso mais estapafúrdio de como as máfias tomam conta de tudo o que nos cerca, senão vejamos:
· Água de coco. Nas praias cariocas e fluminenses não aparece sem a intervenção de grupos fortemente constituídos de distribuição da fruta em toda a orla marítima. Tem o esquema da compra, da venda, da colocação do produto final ao sedento consumidor. Certa vez, por experiência própria, tentei carregar cocos do nordeste e vender na cidade do Rio de Janeiro. Doce ilusão. Ganharia bons lucros trazendo dois caminhões carregados com frutos mais bonitos ainda do que os vendido na época na cidade.
Quando me dei conta já estava sendo sutilmente ameaçado de morte no telefone ao tentar perguntar para alguns proprietários como seria entrar com cocos de fora.
· Emplacamento de veículos. Se alguém ai conseguir fazer todos os trabalhos de emplacamento, licenciamento, vistoria sem entrar na máfia do Detran do Rio me avise. Esqueça. Não é possível. Há um esquema tão firmemente montado que nem mesmo o próprio Detran por si não consegue desfazer. Tem que pagar propina ao homem que atarraxa as porcas da placa até o famoso “despachante” faz tudo sempre presente no local. Fazer o serviço você mesmo e tentar salvar alguns trocados é tarefa mais difícil que sair carregando o Cristo Redentor nas costas com ele ainda vivo.
· Água mineral da garrafinha. Tem marca certa e a distribuição já tudo dentro do esquema em toda a costa fluminense e carioca. Não há como escolhermos a marca da nossa confiança para matar a sede. Todos os barraqueiros e ambulantes vendem a mesma marca com ou sem gás.
· Biscoitos de polvilho. Quem não foi ao Rio e ainda não comprou os famosos biscoitos Globo salgados ou doces ainda não experimentou o sabor dessa máfia. Novamente, em toda a extensão das praias de norte a sul, só se encontra o biscoito dessa marca. São deliciosos, diga-se de passagem. De novo sem opção de marca alternativa. Essa é uma das máfias mais antigas do Rio de Janeiro e presente desde quando eu era criança a dez mil anos atrás.
· Açaí. Saborear uma gostosa e gelada gamela da fruta é também sentir o doce azedo de gangsteres montando um famoso esquema prático e altamente lucrativo de comercialização da iguaria. Não há como escapar. Salvo se trouxer seu próprio suprimento para as areias quentes.
· Guarda-sol, cadeiras de praia, esteiras e a gama de quinquilharias que nos ajudam a tomar um sol com mais conforto, tudo é fornecido por comerciantes dentro de um esquema altamente organizado e cujos territórios são definidos claramente com pagamento de uma espécie de participação obrigatória ao dono do negócio todo.
Pelo Brasil afora outras tantas organizações criminosas estão presentes no nosso dia a dia.
A máfia dos combustíveis é a mais flagrante delas. A começar pela própria Petrobrás que é monopólio. Ela determina preço, quantidade, qualidade e ponto final. Não há concorrência desde o refino à distribuição.
Nos postos arma-se outro esqueminha de derrubar a concorrência que quer trabalhar dentro da honestidade. Todos são obrigados a praticar basicamente o mesmo preço sob pena de ameaças até de morte. Piracicaba é uma cidade totalmente dominada por essa gente. Perde o consumidor que abastece seu carro com guloseimas mágicas que são chamadas de gasolina ou álcool que arrebentam os motores e queimam nossas divisas pessoais. Não há saída. É pagar ou ficar a pé.
Suco de laranja. A Folha de SP desta segunda feira, dia 15/03/2010, trouxe reportagem de uma pessoa que ajudou a montar o esquema da máfia do suco que agora, vitimado pelo próprio esquema que ajudou a montar, vem ao trombone colocar a boca denunciando em si bemol toda a patifaria de produção, distribuição e exportação. Milhares de pequenos produtores tiveram que simplesmente plantar batatas, em linguagem figurada ou não. Foram banidos do esquema ou simplesmente quebraram.
Vai no rolo toda a industria de moagem da fruta e por aí afora, até chegar na boca do consumidor doméstico ou estrangeiro. Tudo armado, tudo esquematizado. Coisa de profissionais do crime que faria Capone ruborizar-se de tanta vergonha.
Vamos elencar alguns outros exemplos de máfias/esquemas, cartéis que atingem nosso bolso de forma avassaladora: políticos (nem preciso gastar palavras, todo mundo conhece), sanguessugas, mensalão, dólar na cueca, na calcinha, nas meias, no sutiã em todos os lugares. Temos também a máfia das loterias a cargo do Estado explorar. Saibam quantos virem que, muitos sorteios de boladas foram fraudados com bolinhas numeradas mágicas com seus pesos alterados para dar uma determinada seqüência, jogo do bicho, dos famigerados flanelinhas que transformam nossa vida num inferno nas grandes cidades, dos guardadores de carro, dos pedintes nos sinais de tráfego, do carvão para assar churrasco. Até isso carvão.
O brasileiro, na realidade, tem simpatia por esquemas organizados para roubar seu dinheiro, senão qual seria a explicação para tanta sacanagem espalhada pelo Brasil? Podemos até fazer uma pesquisa sem que a pessoa necessite se identificar que a maioria gostaria de montar também algum esquema para ganhar dinheiro na base da esperteza/ilegalidade.
Algumas máfias foram montadas muito antes de Pedro Álvares Cabral usar calças. O esqueminha da quadrilha real, que veio fugida de Portugal, trouxe na bagagem os vírus da pestilenta forma de negócios reais, e que transformou o Brasil num canteiro de destruição para forrar os cofres dos safados vestidos de finos tecidos europeus. Arrebentou-se com tudo. Nossa madeira, nossas pedras preciosas, nosso ouro. Tudo roubado pela coroa para patrocinar os gastos da gentalha real.
Outro cartel extremamente organizado por aqui que nos traz zilhões de reais de prejuízos é a das construtoras. Não houve, não há e nunca haverá obras públicas sendo erigidas sem propinas escorrendo pelo ladrão. É a forma natural de negócios desta natureza.
Esta quadrilha encastelada faz com seu toque o preço das obras disparar nas alturas para dar de comer aos lobos de plantão que todos sabemos quem são.
E quer saber? Ninguém liga a mínima. Desde a cervejinha trincando no gelo, o show do BBB esteja no ar, que não falte carvão para torrar nas milhares de lajes, carnaval, muita folia e sacanagem os cartéis dominarão durante muitos séculos à frente nosso meio de vida.
Al Capone que o diga. Pobre coitado se fosse aqui a Chicago de outrora seria ele considerado apenas um punguista de meia tigela.

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