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quinta-feira, 28 de outubro de 2010


















BODE EXPIATÓRIO O CULPADO MAIS INOCENTE

Descobriram o Brasil. Acabou de acontecer. Vocês não sabiam? Vejam a que ponto nojento a nossa justiça chegou.
A Justiça Militar condenou nesta terça-feira (26/10/2010) a um ano e dois meses de detenção, por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), o pobre coitado sargento Jomarcelo Fernandes dos Santos, controlador de voo que trabalhou no controle de tráfego aéreo no dia do acidente da Gol no voo 1907, que deixou 154 mortos há quatro anos. Cabe recurso ao Superior Tribunal Militar (STM).
A justiça militar acabou de receber o prêmio novel do descobrimento inédito.
Neste ponto posso utilizar todo meu conhecimento do setor de aviação, minha eterna paixão, e colocando minhas modéstias às favas para dar um pitaco no molho.
Sabidamente o funcionário punido acima é o famoso BODE EXPIATÓRIO.
O bode expiatório era um animal apartado do rebanho e deixado só na natureza selvagem, ou seja, sem qualquer contato com humanos ou domesticação como parte das cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação (culpa), a época da existência do Templo de Jerusalém. Este rito é descrito no livro da Bíblia em Levítico, Cp. 16.
Jomarcelo é o bode apartado do momento no caso fatídico do voo que se estatelou na selva amazônica sem qualquer sobrevivente.
O caso é emblemático sob diversos aspectos.
Primeiro que um acidente da natureza do voo 1907 não foi por conta de um evento isolado como a quebra de um motor uma asa arrebentada. Na queda do Boeing da Gol diversos eventos conectados entre si puderam derrubar uma aeronave moderna, nova e com pilotos experientes.
O gritante é personificar a culpa no elo mais fraco da corrente, justamente aquela pessoa que representa o personagem da tragédia anunciada de um sistema aeroviário nacional em estado terminal e virtualmente assassino.
Quem matou aquelas pessoas no ar afinal de contas?
Várias são as culpas concorrentes e não excludentes.
Já discuti isso aqui uma vez, mas não custa repetir para refrescar a memória.
A queda daquela aeronave começa bem antes dela ter decolado do seu ponto de origem.
Tragicamente a tragédia começa numa festividade natural de uma empresa aérea norte americana que comprava um avião Legacy em São José dos Campos (SP).
Joseph Lepore e Jan Paladino foram os pilotos escalados por aquela empresa para levar o jato comprado da EMBRAER para seu lugar de trabalho nos EUA.
Após liberado o plano de voo, o avião decola rumo a Brasília como passagem obrigatória para a rota norte a partir do ponto de intersecção do Sindacta na capital brasileira.
Ao mesmo tempo o vôo 1907 da empresa aérea Gol decolou sem inconvenientes às 14h30 de Manaus em direção a Brasília, onde deveria fazer uma escala antes de prosseguir até o Rio de Janeiro.
O primeiro catalisador da queda do Gol aparece aqui. Desconhecendo as regras de vôos domésticos, os pilotos do Legacy deveriam, ao passar em Brasília, alterar a altitude de cruzeiro de seu avião para um número par de 38.000 pés ou 36.000. Até então o jato da Embraer voava regularmente numa altitude impar e normal para o trecho até Brasília. Aviões rumo ao norte adotam altitudes pares e impares se a rota for para o sul a partir da capital federal.
O Gol voava em sua rota normal a 37.000 pés pouco mais de 10 kms de altura rumo ao sul.
Joseph Lepore e Jan Paladino não fizeram a alteração de altitude obrigatória e despercebida pela equipe do Sindacta. A figura de Jomarcelo dá sua contribuição ao acidente aqui colocando uma pitada de irresponsabilidade na instrução do voo rumo ao norte que ele não deu aos pilotos norte americanos.
No plano de voo do Legacy havia a obrigatoriedade de alterar a altitude para um número par a partir de Brasília, Joseph Lepore e Jan Paladino não obedeceram às instruções, outra contribuição para o evento trágico.
Continuando os dois voos que logo se encontrariam de forma trágica a inabilidade dos pilotos norte americanos desligarem o transponder da aeronave para testá-lo durante o voo.
O transponder é um dispositivo de comunicação eletrônico complementar de automação e cujo objetivo é receber, amplificar e retransmitir um sinal em uma frequência diferente ou transmitir de uma fonte uma mensagem pré-determinada em resposta à outra pré-definida “de outra fonte”.
O sinal do dispositivo acima colocado nos aviões permitem que os radares saibam que tipo de aeronave esta passando nas telas, plano de voo com origem e destino.
A partir daqui uma série de eventos acabariam por selar a sorte dos passageiros do voo 1907:
• falha de comunicação ar- terra no chamado “buraco negro” (norte do estado de Mato Grosso) conhecidíssimo e manjado no ramo aeronáutico sempre negado pelas autoridades caras de pau do setor aéreo brasileiro;
• intermitência do sinal do transponder do Legacy inviabilizando fluxo normal de comunicação e identificação;
• quando a comunicação se restabelecia por curtos períodos a dificuldade dos radares em terra perceber a iminente catástrofe.
Depois deste marco somente um violento golpe de sorte para impedir a colisão no ar.
O mais incrível do acidente é que, apesar dos jatos estarem um indo de frente para o outro, havia a possibilidade de se cruzarem sem maiores incidentes porque, embora estivessem voando na mesma altitude, a rota aérea permite deslocamentos laterais como se fosse a largura de uma estrada.
A justiça optou pelo mais fácil e usual que é condenar um Zé Mané qualquer pela culpa de toda uma cadeia de eventos.
A corte americana jamais punirá os pilotos do Legay e ponto final.
Lamentável sob todos os aspectos. Uma pessoa carregar um fardo dessa natureza sozinho como o Sr. Bode Expiatório de plantão chamado Jomarcelo..


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Magno Almeida Lopes, escritor e jornalista free-lancer, administrador de empresas com habilitação em negócios internacionais, tecnólogo de obras e solos, engenheiro de rede Lan, membro efetivo da academia Piracicabana de letras, MBA em comércio exterior. Piracicaba (SP), 27 de outubro de 2010. email: lopesmagno@gmail.com

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