JORNAL PENA LIVRE
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domingo, 30 de outubro de 2011
QUEM SAIR POR ÚLTIMO APAGA A LUZ!!!
Manuel Bandeira, iminente poeta brasileiro recifense de nascimento e morto em 1968, escreveu o poema “Vou me embora pra Pasárgada”, que passo a adapta-lo neste instante. Usei de algumas alterações e cortei alguns trechos para captar a idéia que quero passar agora.
Vou-me embora pra qualquer lugar onde possa ser amigo do rei, onde possa escolher uma cama com a mulher que eu quiser me deitar, onde possa ter uma existência sem inconseqüências que me aborrecem na casa da mãe de Joana que se transformou nosso país.
Lá onde quero viver pode ser uma existência de aventura e como farei ginástica, andarei de bicicleta, montarei num burro se quiser e subirei no pau-de-sebo.
Tomarei banhos de mar sem que me roubem a camisa, e quando estiver exausto deitar-me-ei na beira do rio ou do mar e me preocuparei apenas se devo comer filé com fritas ou não.
Mandarei chamar a mãe d’água para me contar histórias de um país deixado para trás com seus desmandos e idiossincrasias. Em Pasárgada tem tudo: policial na esquina para me proteger, faixa branca onde posso cruzar a rua sem tombar no asfalto atropelado e muito tempo para vadiar sem me preocupar com a chave no contato.
Lá terei a cama que quero e posso ser amigo do rei.
No final do dia levarei meu cão sarnento, sim, para dar um passeio, ele também é gente já diria saudoso ministro de outrora. Um tempo que deixei para trás com suspiros de quem tira estrepe do pé ou se cura de dor de barriga crônica.
De Brasil nem quero saber de olhar no mapa mundi ou navegar pelo Google Earth para achar onde um dia soltei minha pipa com calção rasgado, pé grosso de apagar charuto sem bronca e chupar cana de açúcar depois de apanha-la correndo atrás do caminhão.
Bons tempos que papai me dizia para calar a boca senão vinha “os homi” e nos levava para lugares tenebrosos. Tudo verde oliva, mas bandido não tinha carreira, vinha Nini e seu cavalos, Erasmo um certo Dias e delegado que fazia sumir criminoso, hoje paparicado pelos direitos humanos que trata melhor quem faz maldade e não tem dó de quem morreu ou aqui ficou paralítico ou doente do pânico.
DKW, Vemaguet e o luxo do Itamarati, não aquele que hoje nos faz vergonha, mas da cortina de plástico para tapar o sol no vidro traseiro. O velho professor que colocava o aluno ajoelhado no milho e não tinha essa de processar ninguém, Deus, Padre e Professor eram o trio sagrado de qualquer cidadela.
Vou me embora pra Pasárgada lá terei o imposto que é justo na hora até da nossa morte amém.
Terei o pão sem bromato da padaria do seu Zequinha, o carro que sonho pelo preço de ninharia e sonhar com uma viagem à Tailândia nem que seja para ver apenas o sol raiar.
Em Pasárgada tem lugar ao sol, governo honesto e corrupção quase zero, respeito ao idoso e hospital para curar-me a ferida sem que empenhe as jóias da coroa em preços salgados que me levam à sepultura.
Quero ir agora pra Pasárgada. De moto, trem ou enchendo minha bóia de pneu usado e subindo o mar Atlântico sem nunca mais olhar para trás.
Paz de acordar sem ver na manchete ministro, governador, prefeito, senador, deputado e até presidentes algemados e pegos com cuecas cheias de dinheiro. Paz de ir dormir sem que o país acorde mergulhado no caos de insanidades administrativas, colocar ministro da saúde o verdureiro da esquina, votar em deputados velhos palhaços sem graça e atletas de roubos e falcatruas.
Um lugar onde possa comprar um remédio sem pagar mais impostos que xampu de cachorro, ou o ICM ridículo da cebola e do tomate. Em Pasárgada posso levar um carro bom por preço de fusca ou carroça do Collor.
Não quero olhar para os lados na hora de partir. O porto ficará como salvaguarda de um lugar onde nunca mais quero saber, olhar, ouvir, ler ou visitar.
Se quiserem me visitar terei “puxadinho” em Pasárgada com mais espaço que apartamento de quarto e sala em São Paulo, vaga na garagem sem espremer o carro para caber e geladeira cheia de comida sem agrotóxico, sem mercúrio e sem fertilizante de coco de galinha.
Vou me embora para lá onde posso ser amigo do rei sem pagar taxa de esgoto, iluminação, taxa do lixo, taxa da água para regar flores no jardim, taxa do estacionamento, do flanelinha e do guardador de capacete de moto na praça. Ou ainda pagar 62 diferentes impostos para comprar um televisor novo.
Vou correndo para lá onde os governantes têm salário de trabalhador de roça para administrar o bem comum, onde falcatrua é punida com cadeia severa, tomar bebida na rua então e sair dirigindo....hum cadeia também.
Quero rasgar minha cidadania da vergonha, tocar fogo no meu passaporte e ser cidadão de Palau, viver de sarongue ou pelado até ficar enrugado ao sol tal como uma casca de noz, sem ter que voltar para casa correndo porque a noite caiu ou dar dinheiro para o motoqueiro apitar na minha rua espantando..... sei lá os fantasmas da rua Thomaz na Vila Resende.
Quero paz e palhaço de graça. Não quero usar nariz de borracha nem ter que viver no meio de criança que faz arruaça e pede perdão ao papai dentro do blindado importado.
Cansei e quero jogar a toalha. Bem longe para nunca ninguém achar.
Quero uma casa no campo para os netos brincarem e uma vaca para minha esposa matar a vontade de acariciar o bicho.
Eu quero uma casa no campo como Elis dizia musicalmente, onde eu possa compor muitos rocks rurais e tenha somente a certeza, dos amigos do peito e nada mais
Onde eu possa ficar no tamanho da paz, e tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais.
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes, no meu jardim, eu quero o silêncio das línguas cansadas, eu quero a esperança de óculos, meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão, a pimenta e o sal, eu quero uma casa no campo
do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé, onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros e morrer no pé da macieira e nada mais.
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