FAZER O QUE? ERA TUDO
MENTIRA
E AGORA “FESSORA?
E AGORA “FESSORA?
Lembro-me com saudades dos bons
tempos de escola, da velha professora, Dona Candinha, de geografia e dos
laboratórios onde fazíamos o famoso sangue do diabo que era jogado no pano branco
para logo depois a cor roxa desaparecer como que por magia.
Tínhamos os livros comprados na hoje
não existente mais livraria Brasil no centro de Piracicaba onde meu pai era
cliente mensalista.
Era uma mala cheia de bons livros
que levava para a escola e eu achava que quanto mais fossem volumosos mais
saber e credibilidade ali podia existir.
Acreditava mesmo que a Terra era
redonda e o triangulo isósceles com
pelo menos dois lados de mesma
medida e dois ângulos congruentes entre si. Difícil era calcular aquelas hipotenusas.
O pessoal só tirava nota boa porque decorava fórmulas misteriosas e que nunca
serviram a mim para nada.
Báscara, teorema de Pitágoras (eca),
e a tabela periódica.
O meu livro de história quase não
tinha figuras coloridas e isso era minha medição de livro erudito, sério e
acima de qualquer suspeita.
O de ciências eu tratava com
carinho, pois sempre gostei da cinemática, da óptica e dos mistérios do
magnetismo, eletricidade (minha matéria predileta) e da dinâmica. Saberia hoje
desenhar a capa daquele livro tamanho era meu fascínio por compreender o mundo
que nos cercava e escarafunchar os segredos do porque a pilha fazia a lâmpada
acender.
Havia erros claros, mas não tão
pesados quanto os livros de história que colocavam Pedro Álvares Cabral como
tendo descoberto o Brasil por ser um excelente navegador e não por ter errado o
caminho para as Índias.
Os mesmos livros que idolatravam Hernán Cortés Monroy Pizzarro Altamirano como
sendo um rico conquistador espanhol numa flama de heroísmo inexplicável.
A professora
falava datas e lugares como sendo as coisas mais importantes e na prova lá
vinha as mesmas perguntas: quem havia descoberto o Brasil e em que data? Ou
quem foi o navegador Vasco da Gama ou seu irmão Pedro da Gama. Pedro quase
nunca foi mencionado nos livros. Ele desapareceu sem deixar vestígios nas águas
do oceano Índico após completar o giro no cabo da Boa Esperança de Bartolomeu
Dias e seus intrépidos marinheiros que arriscaram tudo numa aposta.
Havia uma
razão não explicada nunca. Porque homens se arriscaram através dos mares que
não eram nem mapeados?
Que força
tira um homem de sua cidade para embarcar num rumo praticamente sem volta e com
alguns ainda acreditando que o mundo tinha formato plano como uma mesa e que
havia, portanto, uma beirada para cair no vazio?
Falava-se
como se tudo fosse apenas uma questão de brava gente com espírito de navegação.
O mito de
Cortez que teria brigado com Montezuma e este enfurecido teria matado boa parte
dos homens do navegador espanhol, quando, na verdade, o povo asteca, percebendo
a traição de seu Rei Montezuma recebendo Cortez em seu palácio e o chamando de
amigo, o matou a pedradas.
Hernan
aproveitou o tumulto e escapou ileso levando, claro, toneladas de ouro do povo
Asteca.
Engano
triangular escaleno pensar que Cortez matou os Astecas a balas e através de guerras
contínuas.
O primeiro
contato com homens europeus e indígenas americanos trouxe uma bomba relógio
escondida na pele dos homens brancos em forma de vírus, micróbios e micro-organismos
desconhecidos no Novo Mundo.
O povo
Asteca foi morto por uma pandemia de infecções como peste e varíola. Evidente
que os Astecas não possuíam resistência em meio à sopa de bactérias presentes nos
homens caras pálidas que desembarcavam daquelas banheiras de madeira
ridiculamente grotescas e frágeis.
Cortez
quando chegou pela segunda vez na grande cidade asteca de Tenochtitlán, que era
maior até do que Londres e muito mais desenvolvida, percebeu que sua carga de
micróbios já tinha feito o serviço que milhares de balas não teriam dado conta.
A tomada
da cidade de Constantinopla, hoje Istambul na Turquia, foi mencionada pela
professora como uma aventura do povo árabe que estava querendo deixar de ser
nômade. Para isso teria que conquistar as rotas do comércio do mundo através da
Meca dos mercadores e negociantes que era Constantinopla.
Havia certo
romantismo no ar nessa aula se me lembro bem. Era como se o império otomano
tivesse chegado às portas da grande cidade e gritado “olhem tudo isso é nosso”
e logo após todos foram celebrar a queda da grande cidade comercial, que era
Cristã e não muçulmana como alguns pensam, tomando cerveja.
A coisa
foi brutal e sem precedentes.
O sultão Maomé
II usou de artilharia pela primeira vez na história culminando com um ataque de
24 horas diárias, em três turnos, utilizando 70 a 80 grossos canhões atirando
bolas pesadas de pedras durante mais de 53 dias ininterruptos contra os muros da
fortaleza da grande cidade.
A cidadela
caiu na força da pólvora e na morte de quase todos. Verdadeira carnificina.
E que por
conta dessa conquista não havia mais como continuar a trazer mercadorias das
Índias para a Europa por via terrestre.
Só restou
mesmo o pessoal construir barcos e procurar um novo caminho para comercializar
especiarias, especialmente pimenta do reino, que, obviamente não tinha a
finalidade de salpicar a salada de ninguém, mas tão somente um dos potentes
conservantes de alimentos como o sal e a gordura.
Lembrando
que não existia Brastemp naquela época para gelar a comida.
A
movimentação marítima se deu por conta de grana, metais preciosos e pura
necessidade bruta. Se os Astecas tivessem só as roupas do corpo e comessem
bananas estariam vivos até hoje.
Cortez
talvez tenha sido um dos primeiros nazistas da história juntamente com o sultão
que matou Constantinopla. Um usou armas biológicas e o outro a pólvora negra.
O que a
cultura europeia trouxe de modernismo levou em troca vidas desperdiçadas pelas
cobiças portuguesa e espanhola que ousaram um dia dividir o mundo em dois, tipo
distribuição de jujuba.
Antes de a
família real fugir de Napoleão para o Brasil há de se ressaltar que o interesse
dos portugueses por aqui era extração de tudo o que pudesse brilhar, cheirar
bem ou servisse para fazer móveis e outras quinquilharias.
Foi um dos
maiores saques que o mundo já assistiu.
Ainda hoje
boa parte dos tesouros europeus cheios de ouro tem o carimbo “made in Brasil” nas grossas barras do
metal nobre.
A maioria
do mobiliário europeu foi construída com nosso Jacarandá da Bahia (madeira
super nobre) dizimado depois do roubo português.
Podemos,
então, rasgar vários capítulos dos livros de História do Professor Ricão
(Ricardo) dos meus bons tempos de escola e usar como calço de portas ou papel
reciclado.
O mundo
ainda é e sempre foi movido pela cobiça, ganância, exploração dos menos
favorecidos e a história acontece somente onde pode brotar dinheiro do nada e alguém
leve vantagem com isso.
O
professor Pinóquio que o diga.