A ORDEM PAPAL
O papa Francisco cumpre sua rotina no Brasil de festejos, inaugurações,
missas, apertos de mão e passeios de papa móvel.
Tudo muito lindo e a juventude participando com delegações do mundo todo.
Legal e meus parabéns ao Papa Francisco, que é inegavelmente um hermano argentino que emplacou sua boa
dose de alegria, otimismo e com afeição tratou o povo brasileiro com respeito.
Não vim aqui falar do Papa. Acho que as manchetes e a cobertura da mídia brasileira,
em doses cavalares, diga-se de passagem, se arrumou de vasculhar cada segundo
da visita do santo homem por aqui.
Estou farto deste noticiário.
A visita do Papa veio bem a calhar para a politicalha nacional que cuidou
para escapar pelo ladrão para mais um período de férias parlamentares que
coincidiu, infelizmente, com o roteiro do vaticano por aqui.
Dilma e seus blue caps deram
graças a Deus com o noticiário saindo do foco das manifestações de rua exigindo
maiores verbas para a porca educação que temos por aqui, hospitais cinematograficamente
bem preparados para matar pessoas ou atendê-las no chão da cozinha, sem gaze,
sem algodão e sem remédios que são poucos ou não são distribuídos se perdendo
em galpões onde jazem a esperança de um comprimido para curar a dor.
Fé é bom demais. Recomendo. Espiritualidade e adoração ao papa fazem bem,
mas quando isso deixa escapar o foco principal da ruína em que se encontra o
Brasil fico imaginando o tamanho da pílula para dar conta desse sofrimento.
Lamentável que os problemas nacionais tenham se transformado em pó de
traque frente à visita do argentino Papa.
O big brother Brasil religioso também cria seus dilemas e
idiossincrasias. De que me vale uma boa fé sem um professor para dar aula para
nossas crianças, de que me vale um monte de santos fresquinhos criados pelo
vaticano com tantas pessoas morrendo neste momento vítimas da onda de frio que
assola o país.
Que me importa se o santo homem a cada beijo exibido na TV para um fiel
uma criança morria de fome do outro lado da cortina?
A visita do papa desviou a atenção para coisas mais importantes que a
reza.
Ótimo para a policália brasileira, os trópicos da politicalha sem
vergonha e que nos ignora.
Agora vamos ter mais feriados para celebrar a visita do Papa, pelo menos
no Rio de Janeiro onde a cidade parou inadvertidamente para ver a banda passar.
Parar uma economia tropeça como a nossa para saudar o homem do papa móvel
talvez tenha sido demais da conta.
É só transportar isso para um país mais voltado ao trabalho e menos dias
de sol como o Japão, os Estados Unidos ou a China. A visita teria sido ótima,
menos noticiada e ninguém teria saído mais cedo do trabalho para exercer sua
fé.
Perdoai-me os que me criticam nesse momento achando que eu exagerei a
dose.
Entretanto, cabe lembrar, que os súditos do Sr. Francisco amanhã estão na
mesma desgraça de sempre: transporte de menos e caro, saúde que cuida melhor
cadelas e cães de rua, inflação andando a cavalo, professor auferindo
centésimos de real do que ganha um vagabundo para chutar couro redondo em
campos de futebol, segurança que cuida apenas do direito do preso e mata a
vítima juntamente com sua família.
Que país é esse?
A vela e a fé movem montanhas, mas não colocam comida na mesa, não trazem
paz ao espírito do faminto e nem remédios para os enfermos, educação para os
estúpidos e vergonha a um povo que não enxerga a hora de dar uma escapadinha
para ver alguma distração menor e esquecer de que amanhã vai ser tudo a mesma
coisa de sempre.
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