MARCAS QUALIDADE
TICO TICO
Aproveitar-me-ei
da boa vontade dos meus leitores para divagar sobre alguns aspectos importantes
da vida, no popularesco “viajar na maionese” não faz mal a ninguém e até
saudável sob vários pontos de vista.
Lembro-me
como se fosse hoje de importantes episódios de minha vida. Um deles dizia
respeito ao imprescindível papel higiênico.. Comprá-lo é um ofício de extrema
responsabilidade.
Representa
o cuidado que você tem para com um dos menores órgãos do corpo humano, nunca é
demais todo e qualquer cuidado, afinal é um trabalhador incansável e, mesmo
atuando sob condições adversas, nunca reclama e quando o faz sente-se toda a
magnitude dessa dor imensa que pode nos causar apesar de ser tão pequeno.
Nos
idos dos anos 70 e 80 do século passado ninguém ligava para isso. Comprava-se
sempre as marcas de papel higiênico mais baratas. Uma delas chamava-se Tico
Tico.
Ninguém
se apercebia da relação do pequeno pássaro com a marca até poder usá-lo com
toda firmeza do mundo. Na hora “h” a sensação era de ser um taco de madeira
sendo lixado e preparado para receber o sinteco.
A
única conexão com o lindo pássaro talvez fosse a qualidade de bicar de forma
bastante pontiaguda, credo em cruz.
Havia
outro infortúnio para a vida moderna de muitos anos atrás. O óleo de cozinha
não era vendido em latas de 900 ml como hoje ou garrafas plásticas como
atualmente. Esse item era comercializado apenas em mercearias onde o produto
era embalado em barris de metal de 200 litros com uma espécie de bomba manual
na parte de cima. A freguesa levava a garrafa de um litro para comprar o óleo
que necessitava e pagava poucos tostões pela quantidade.
Claro
que o óleo tinha gostos estranhos em sua fórmula. Os mais populares eram de
marcas tipo Minasa que tinha gosto de asa de barata cozida no vapor. Evidente
que o gosto era transportado para a comida. Graças a Deus minha santa mãezinha
não comprava Minasa preferindo encher seu litro com Delícia, óleo usado para
temperar saladas na época. Uma das primeiras marcas a receber os vasilhames
próprios foram: Brejeiro (óleo de arroz) e Delícia, que era óleo de caroço de
algodão migrando logo depois para a soja.
As
margarinas eram capítulo à parte. Primor e Claybon foram as primeiras a estrear
no mercado. Quando eram geladas ficavam duras como pedra requerendo dos
usuários cuidados extras e sempre deixá-las fora da geladeira previamente ao
uso. O gosto era duvidoso. Um misto de gorduras desconhecidas fabricadas com
processos antiquados que colocavam em nossas mesas produtos acanhados na
qualidade, embora fossem baratas. As margarinas ficavam ótimas, entretanto, na
cozinha em geral auxiliando a preparação de bolos, bolachas e excelentes para
fritar ovos deixando-os com a gema ainda mole, uma iguaria que faz falta,
principalmente quando comíamos pão juntamente com a gema dos ovos.
Os
sabonetes de antigamente eram fabricados, na minha opinião para, limparem couro
nos curtumes e transportados para nossos banheiros com leves perfumes, todos
muito ruins por sinal. Eucalol era uma das marcas presentes em
vários anúncios nos bondes Piracicabanos que ainda circulavam até final dos
anos 60 do século passado, bem como Gessy que era um pouco melhor, mas bem
pequeno para uma série de banhos contínuos. Em Piracicaba os bondes começaram a
circular na versão puxados por cavalos em 1877, diga-se de passagem.
Os
supermercados eram uma novidade bem recebida pelos brasileiros, os primeiros
que visitei ainda criança eram uma maravilha: gôndolas cheias de comidas
coloridas, refrigerantes, as prateleiras forradas com latas de leite Moça,
Creme de Arroz Colombo, Toddy em sua lata marrom, Chocolates Pan, Drops
Dulcora, ceras Parquetina, creme de cabelo Glostora e cigarros ovais Fulgor,
além das caixinhas de fósforos de segurança Grarany, Granada, Pinheiro.
Nunca
entedi o termo “segurança” nas caixas de fósforo, em piracicabanês “caxara de
fofri”, talvez porque mesmo chacoalhando vigorosamente eles não pegavam fogo.
Nas
televisões as pioneiras propagandas do combustível Esso com a família gotinha,
dois personagens que lembravam um casal de namorados viajando com sua famosa
Lambretta sempre abastecida em postos da marca. Cheguei a ter pinos de boliche
com eles. Havia também a rede Atlantic de postos de gasolina extinta nos anos
80 do século passado. Os postos, claro, todos emporcalhados de graxa, sujos e
exatamente assim é que atraíam o povo para usar seus serviços.
Nugett
para engraxar os sapatos, chiclete Adans, querozene Jacaré, brilhantina e
bolachas Aymoré, Crush para matar a sede, Grapette quem bebe repete, Cola-Cola
tamanho família em garrafas de vidro, bolo Pullman, sabonete Phebo, pó de arroz
Cashemere Bulquet e artigos de beleza Coty e Helena Rubstein.
Ah,
evidente o mais famoso veículo nacional o Volkswagem besouro, pé de boi e com
jogo de malas de couro para celebrar a entrada da marca no Brasil e sua
montadora em terras brasileiras. Fissori, Regente, Aero Wyllis com a persiana
para o vidro traseiro que era um luxo só, o famoso Sinca Chambord ou Rally,
imperdível Candango, Vemaguete da DKW, Gordini e o Dauphine que fervia seu
motor ao mais leve esforço.
Bons
tempos ainda das últimas locomotivas Baldwin fabricadas na Pensylvannia (EUA) a
vapor que faziam seu barulho doce pelos trilhos da Sorocabana, Paulista e
Mogiana. Vagões de veludo vermelho e sanduíches frescos de mortadela cheias de
bolotas de gordura. O cheiro tomava conta de tudo na hora do recreio nas
escolas.
O
romantismo foi-se. As grandes corporações tomaram conta dos nossos
supermercados transformando-os em shopping centers e parque de diversões, filas
intermináveis nos caixas, as empresas nos enganando fazendo alterações para
menos na calada da noite em quantidade e peso para cobrar a mesma coisa.
Casos
dos papéis higiênicos que encurtaram 10 metros (40 para 30m), latas de
refrigerante que perderam 5 ml, chocolates
em barras que emagreceram 40 gramas, um litro que virou 900 ml e um
quilo que murchou para 900 gramas, tubos de pasta de dente cheios de ar e com a
massa diluída em água para desperdiçar mais produto. Ah...ia esquecendo, a
grande sacanagem e roubalheira da indústria de medicamentos com suas absurdas
embalagens de 28 comprimidos que só nos servem para o mês de fevereiro de anos
bissextos.
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