JORNAL PENA LIVRE

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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

LUTA LIVRE ESCOLAR


LUTA LIVRE – ENTRADA FRANCA

Quem gosta de assistir lutas do campeonato mundial da classe Ultimate Fighting basta sintonizar qualquer canal da rede aberta brasileira. Tem combates todos os dias nas categorias mulher x mulher, homem x homem e grupos misturados.
Vale tudo para esta competição: puxão de cabelos, arranhões, pontapés, pedradas, tiros e morte. Não paga nada e tem até patrocinador. Vamos estourar baldes de pipocas que hoje tem mais.
Quem leva o maior premio vai para a enfermaria ou necrotério.
A batalha naval que se constituí as brigas de alunos das redes pública ou particular transforma-se rapidamente numa síndrome sem paralelos.
São pega-pegas diários, lutas por bobagens irrisórias que levam muitos alunos a imaginarem-se no octógono onde são realizadas as lutas do Ultimate Fighting. Isso quando não são dados tiros mortais nos adversários.
As lutas são transparentes Raios-X onde escrutinamos uma coleção interminável das origens da violência estudantil mostradas nas chapas reveladas. Todas as origens, entretanto, são conectadas uma a uma oferecendo um diagnóstico muito sombrio.
Cada fator, que adiciona molho nesse tempero amargo, tem sua influência definitiva neste universo de sangue e porrada.
A começar do mais óbvio: a família.
Nota-se uma flagrante ausência de educação de berço nos alunos que se matam diariamente nas escolas pelo Brasil e no mundo. A violência já começa no lar. Pais ausentes, relaxados com a segurança e educação dos filhos, extremamente irresponsáveis no tocante ao fator material, permissivos em atos que seus rebentos praticam desde cedo e que deveriam ser completamente inibidos e não o são.
Quem não teve a oportunidade ou a desgraça de sentar-se num restaurante e ter aquele garoto infernal na mesa ao lado que faz barulho, corre desesperadamente até por debaixo das mesas, grita sem parar, esbofeteia até os irmãos?
Os pais assistem a tudo sem notar a péssima educação dos filhotes e se alguém chamar atenção deles os responsáveis pelos filhinhos são capazes de levar a todos do salão para as barras dos tribunais.
A farra das lutas nas escolas começa neste ponto. Fora do convívio do lar alguns meninos e meninas transformam-se rapidamente em bestas feras prontos para matar se for necessário ou mesmo se der prazer.
As vítimas são sempre as mesmas escolhidas a dedo. Geralmente o alvo é concentrado em alunos que se diferenciam nos estudos ou tem comportamento urbano aceitável, crianças ou adolescentes que se destacam pela beleza física, ou que possuem algum tipo de notável diferença sócio-cultural e os famosos desafetos amorosos.
Esse o fator mais importante que leva as crianças a agirem como gângsteres dentro e fora de casa.
Na hora da punição, que deveria ser exemplar, os pais colocam panos quentes e fica por isso mesmo. Quem tomou porrada que se lixe ou mude de escola.
Fator número dois e não menos importante dessa doença da luta livre de estudantes. A escola não está preparada para lidar com esse problema. Percebe-se uma falha terrível da contratação de responsáveis pelas crianças no cotidiano das escolas.
Os famosos bedéis (inspetores de alunos) são invariavelmente pessoas desqualificadas, mal remuneradas, mal treinadas e em número completamente aquém das reais necessidades escolares. Aplica-se a mesma ladainha: se os bedéis derem um pito sequer neste ou naquele aluno(a) os pais chamarão o inspetor para responder processo por isso ou aquilo outro tirando a autoridade que se faz necessária para o mantenimento da ordem escolar.
Os pais não admitem transferir sua autoridade policial para outra pessoa impondo um empecilho de difícil transposição na hora de educar os violentos dentro das escolas.
O terceiro fator: a mídia em geral. Ela propagendeia demais esse caso para assegurar alguns pontinhos no Ibope. Basta acionar algum canal onde uma notícia desta natureza é veiculada. Há uma certa sensação de que os atos violentos escolares são revestidos de um heroísmo invisível e uma coisa a ser incentivada. Reparem que quanto mais cenas dessa violência, mas elas aparecem. Quem tem pendor para atos violentos tem esse incentivo de ficar famoso na tv ou no youtube e aí parte para a pancadaria barata e de graça.
Quarto fator: sistema de ensino. O que é adotado atualmente provoca um lapso terrível de modelo de ética, moral e civismo. O governo acha que educar é somente ensinar a somar e escrever. Não se preocupa em adicionar valores aos estudos nem acrescentar parâmetros de conduta em práticas saudáveis e consagradas há muitos séculos através de matérias hoje abandonadas.
O sistema atual é excelente em provocar a indiferença pelos estudos e o completo desinteresse pela escola em si, o desprezo pelo certo com a cumplicidade estúpida dos pais que movem moinhos para proteger seus lutadores, digo filhos.
Para que a sociedade consiga dirimir esse problema tem de atacar os fatores sem medo de errar. Nada adianta colocar mais inspetores se na jaula doméstica a fera é bem treinada e incentivada pelos responsáveis a agir como trogloditas.
Também vai soar inócuo colocar mais muros, mais grades nas escolas. Não é cercando o leão que ele deixa de agir como um.
Finalmente, as famílias devem tomar pulso forte imediatamente corrigindo o erro principal de sua incapacidade de lidar com seus briguentos(as) filhos(as) dando a eles o caminho do democrático diálogo para que eles tenham chance de resolver no futuro suas diferenças na base da saliva e não da bala do revólver.
Caso ninguém tome uma atitude restar-nos-á rezar para que isso não se alastre como pandemia de gripe suína.



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