ITAQUERÃO ENTREGUE SEM CONDIÇÃO DE USO
O carro acima esta inacabado. Mesmo que seja de uma marca famosa
se ele estivesse sendo vendido na loja ninguém iria comprá-lo. Faltam as rodas,
pintura, faróis, bancos, acabamento, som, enfim não é um carro.
Agora tente imaginar algo maior que um carro.
Que tal um estádio de futebol novinho em folha?
Ah esse pode.
Pois foi o que aconteceu.
O Itaquerão, estádio na cidade de SP que sediará jogos da Copa
do Mundo de 2014 está sendo entregue hoje (15/04/2014) ao seu proprietário sem
pneus, luzes, buzina, bancos, vidros, freios.
Não vou falar aqui o nome da construtora senão ficarei anos
respondendo na justiça num processo de dezenas de milhões de reais.
A empresa de construção, uma das maiores do país, teve a cara de
pau de anunciar a entrega de algo que não está pronto. Pior inseguro, perigoso,
incerto, duvidoso.
Será que essa possibilidade foi traduzida no contrato original
da construtora com o comprador da obra?
Fico imaginando a cláusula contratual para acolher essa
possibilidade: “A obra vai ser entregue inacabada mesmo. E que se danem os
donos e as pessoas que usarão o estádio de futebol. Vidas dos outros não tem a
menor importância. Nós, a construtora, queremos botar a mão na bolada o mais
cedo possível”.
Aí tem dente de coelho caros leitores, tem gato nesse rochedo.
Normalmente quando isso acontece alguém no circuito quer tirar o
belo bumbum da seringa cheia de remédio amargo.
Essa obra já há muito tem o carimbo do mico desde o exato
instante que os construtores deram a primeira picaretada no solo para construir
o alicerce.
Cai gente ali, morre gente aqui, explode isso e mais aquilo. Nem
obra feita de pau a pique tem tanta sensação de insegurança e um sentimento de
medo.
Jamais me arriscaria a dividir o espaço com outros milhares de
pessoas para a diversão do futebol com o risco de ver tudo virar poeira e
soterrar a todos com o rufar dos tambores.
O poder público cheirou cola nesse caso.
Imagino que uma obra qualquer quando é entregue deva ter vários
papéis para sacramentar a entrega, inclusive um chamado “habite-se”, dando
regularidade da construção para aquela finalidade.
O Itaquerão tem esse documento?
Quem vai colocar a canetada final?
A mim me parece que o estádio tem calendário próximo para
eventos ocupando suas instalações de modo operativo e integral.
Será seguro?
As arquibancadas vão suportar magrinhos e gordinhos?
Será que os engenheiros calcularam a carga das estruturas para
segurar uma montanha de gente gritando e fazendo trepidar até os parafusos
menores do estádio?
Deixei outro dia minha imaginação correr no parquinho de
diversão. Ela trouxe para casa uma história medonha de sangue e terror.
A imaginação escreveu que no dia da inauguração para um evento
de bola, parte da arquibancada XPTO ruiu matando centenas de pessoas e
soterrando outras tantas.
Na sequência houve o empurra empurra clássico e um Zé Ruela qualquer
foi culpado na sequência final da tragédia.
Quem pagará?
Ninguém.
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