Cansei de ouvir meus antigos professores de história explicar
com linguagens rebuscadas e cheias de sentimentalismo o que foi e porque
aconteceu a revolução de 1964. Milhões de brasileiros aclamaram-na como sendo
uma revolução salvadora ou redentora, inclusive meu velho e querido pai, um
militar reformado, mas que nunca atuou nem nos palcos nem nos bastidores do
evento político-militar social naquela data.
Meu pai, pelo contrário, quando o Brasil mergulhou
definitivamente no regime ditatorial militar não se cansava em alertar-me para
sempre manter a boca fechada. Havia o temor de ser tachado de revolucionário,
subversivo e outras tolices assemelhadas garantindo, por parte do sistema, boas
surras ou torturas em calabouços espalhados pelo Brasil inteiro ou até ser
morto pelo regime.
Os professores se esforçaram em nos fazer decorar datas e alguns
fatos, escondendo em seu manto de ignorância os reais motivos para disparar um
processo de tão sérias consequências, algumas delas visíveis ainda hoje.
Temos que sobrevoar o mundo naqueles idos da década de 1960 para
entender a tridimensionalidade das coisas.
Havia um clima de revanchismo entre forças da antiga União
Soviética e seu regime comunista e os Estados Unidos defendendo uma bandeira
oposta pelo vértice do capitalismo e mundo livre em termos de iniciativa
privada.
Ao longo da famosa cortina de ferro (espécie de artilharia mútua
situada entre as fronteiras físico-ideológicas na Europa) havia um esforço para
manter o medo que cada regime nutria do outro.
Esse medo se refletia em corridas armamentistas desenfreadas em
todo o planeta, de um lado o pacto de Varsóvia e de outro as nações do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) sendo que esta organização era em sua essência
comandada pelos EUA.
Mas o que isso tem a ver com a revolução de 1964?
Nos Estados Unidos o clima era de uma iminente invasão soviética
como o governo na vanguarda da propaganda que aquilo era liquido e certo e que
o exército vermelho comia criancinhas.
O sentimento era de histeria na sociedade americana, muito mais
fomentada pelo próprio governo yankee para justificar seus bilionários
orçamentos militares e manter um império industrial voltado a essa finalidade,
basicamente porque este mesmo império era quem de fato financiava as campanhas
à presidência e quem de fato presidia o país.
Mormente à plácida manifestação de horror do governo americano,
era necessário estender ao mundo inteiro uma ideia semelhante de que o regime
comunista era o vírus a ser combatido em toda a cadeia biológica planetária.
Logo, as nações penduradas no eixo político americano, inclusive
o Brasil, tinham que rezar na mesma bíblia ideológica americana ou seriam
taxadas como inimigos e sujeitas inclusive a uma invasão norte-americana
militar se os governos locais não se dispusessem ao papel de cordeirinhos e
obedecerem cegamente à grande nação do norte.
Naquele poço fervilhante do Brasil do começo da década de 1960,
as forças ideológicas brasileiras lutavam para conquistar espaço. Cada vertente
política puxando sua adorável e enorme sardinha para seu lado e proclamando ser
aquele regime ou ideia a melhor do mundo.
Para os EUA os pecados mortais de qualquer nação sob seu judice
seriam:
·
Manter qualquer tipo de amizade com nações
ditas comunistas;
·
Visitas mútuas de líderes comunistas pelos
motivos que fossem;
·
Fazer propaganda de regime que não fosse o
capitalismo americano;
·
Realizar qualquer comércio com nações
comunistas;
·
Realizar ou idealizar qualquer pacto
militar por mínimo que fosse com nações ditas do eixo do mal.
O governo dos EUA espionava o mundo inteiro para certificar-se
que todas as nações sob seu domínio não estavam praticando nenhum dos pecados
relacionados acima.
O Brasil estava.
Nunca ninguém negou que os governos brasileiros desde Getúlio paqueravam
e mantinham relações com nações comunistas de Cuba, China ou União Soviética.
Essas relações eram por diversos motivos. Um deles o político.
Lembrando que o governo democrático de JK (na verdade alguns
presidentes circularam entre o fim de Getulio e a posse de JK como: Jose
Linhares (interino), Eurico Gaspar Dutra, Café Filho, Carlos Luz (interino) e
Nereu Ramos, sucedeu o de Getúlio Vargas que tinha se mostrado inclinado a
namorar o regime comunista da extinta URSS.
Desde a época da Segunda Grande Guerra (SGG) quando os EUA
perceberam haver essa inclinação getulista ao regime de esquerda tratou de
colocar a casa em ordem sugerindo a Getúlio apoiar o governo americano,
inclusive na SGG, senão a coisa ficaria muito preta.
Obedece quem tem juízo e Getúlio o fez, mas deixou atrás de si
muitos rastros comunistas pelo Brasil afora, inclusive em muitos partidos que
futuramente se transformariam em agremiações proscritas.
A democracia brasileira era um bebe ainda em fase de
amamentação.
A política ainda usada fraldas igualmente.
Entre 1954 e 1964 a guerra de ideologias no Brasil era conversa
de botequim e muito comum, bem como os ânimos bastante exaltados cada um
defendendo um regime de conto de fadas e céu cor de rosa.
A renúncia de Jânio Quadros de certa forma desestabilizou o
clima político nacional.
Havia oportunidades de uma exploração política bastante
aproveitada pela maioria dos partidos políticos em especial os comunistas.
A renúncia de Jânio criou uma grave situação de instabilidade
política. Jango estava na China quando deveria tomar posse à vista da renúncia
de Jânio e a nossa Carta Magna era clara: o vice-presidente deveria assumir o
governo. Ponto.
Porém, os ministros militares se opuseram à sua posse, pois viam
nele uma ameaça ao país, por seus namoros ainda que platônicos com políticos do
Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Apesar disso, havia discordâncias importantes no meio militar sobre o veto a
Jango.
A crise econômica causaria severa crise no governo e inflamou a
oposição dos militares.
Que fez Jango então?
Procurou criar forças participando de manifestações e comícios
que defendiam suas propostas. Um dos
comícios mais importantes foi em 13/03/1964 em frente ao Edifício da Central do
Brasil (Rio de Janeiro). Reuniu cerca de 150 mil pessoas, incluindo sindicatos,
várias associações de servidores públicos e estudantes. Os discursos pregavam o
fim da política de conciliação do presidente com apoio de setores conservadores
que, naquele momento, construíam bloqueios pesados as reformas no Congresso.
Um erro de Goulart, diga-se de passagem. A oposição acusava o
presidente de desrespeito à ordem constitucional, pois o Congresso não havia
aprovado a proposta do governo de alteração na forma de pagamento das
indenizações aos proprietários quanto a desapropriações para uma suposta
reforma agrária. Carlos Lacerda, jornalista ácido e caustico, então governador
da Guanabara (hoje cidade do Rio de Janeiro) disse que o presidente era um
"subversivo".
O
decreto da Superintendência de Política Agrária (SUPRA) assinado no comício da
Central do Brasil, em 13 de março de 1964, provocou forte reação nos setores
mais conservadores e contribuiu para a derrubada de João Goulart. (Fonte:
Google.com.br, acesso em 02/04/2014)
Em
19/03/1964, em São Paulo, foi organizada
uma marcha pública chamada Marcha da Família com Deus pela Liberdade e o objetivo era mobilizar a opinião pública, em
geral, contra o governo de Jango e a
política que, segundo eles, culminaria com a implantação de um regime comunista
totalitário no Brasil.
Isso
acendeu um holofote vermelho para o governo americano de Lyndon Johnson,
classicamente um caçador de comunistas e que infernizou os cidadãos americanos
com perseguições descabidas e injustas criando um cenário de horror ao
comunismo.
Documentos
recentemente descortinados mantidos anteriormente sob o manto da classificação
como ultrassecretos fornecem indicações plausíveis quanto ao papel do governo
dos EUA na revolução salvadora de 1964.
São
documentos escritos, extratos de conversas gravadas em voz. Um dos arquivos
sonoros há um papo entre e o Subsecretário de Estado norte americano, George
Ball, o Secretário Assistente para a América Latina, Thomas Mann, e o
presidente Lyndon Johnson.
Este
se mostra seriamente inclinado a tomar medidas cabíveis para derrubar João
Goulart e que faria de tudo para conseguir isso.
Há
ainda alguns telegramas remetidos pelo embaixador no Brasil, Lincoln Gordon,
que praticamente imploravam para que Washington se envolvesse diretamente na
causa nacional da derrubada de Jango.
O
embaixador ainda enviaria mensagens ao diretor da Cia, John McCone, e aos
Secretários
de Defesa e de Estado, Robert McNamara e Dean Rusk (Fonte: O Estado de SP,
acesso em 02/04/2014)
Gordon
inventa uma história insólita de que Jango estava trabalhando com o PCB para
arquitetar uma ditadura e pede suporte aos EUA para colocar o General Humberto
Castelo Branco no poder em seu lugar e sugere, ainda, que o apoio seja
concretizado com remessa ilegal de armas, combustível mais logística militar.
O
louco varrido Gordon, finalmente, entraria em transe completo em sua loucura e
pedia, num segundo estágio, uma invasão ao nosso território com forças para
servir de retaguarda ao golpe.
Dia
31 de março Goulart cairia.
Dia
1 de abril de 1964, Jango retornou a Brasília e de lá seguiu para o estado do
Rio Grande do Sul onde Brizola (seu cunhado) queria montar uma resistência
armada logo rechaçada por Jango.
O ex-presidente
morreria em 1976 na Argentina colocando o ponto final numa história bastante
sui generis e uma revolução que culminaria na existência de 21 anos de ditadura
intransigente, assassina justamente o que se queria evitar se o Brasil
assinasse o termo adotando o comunismo.
No
frigir dos ovos deu no mesmo.
Mortes
aconteceram por uma coisa ou outra, um regime A ou B. A revolução salvadora ou
redentora de nada nos serviu a não ser ter cumprido um papel de disparar um
processo de assassinatos em série. Regimes de esquerda ou direita matam do
mesmo jeito, basta querer.
Finalmente,
não podemos esquecer que os governos pró-movimento petista/lulista ensaiam, da
mesma maneira, arquitetar e construir um Brasil socialista/comunista. A receita
de bolo já está em andamento. A começar pela destruição das nossas instituições
e as famigeradas tentativas ao longo do tempo, desde a posse de Lula, para
calar a boca da imprensa e controlar os meios de comunicação. A tudo isso se
soma o clima anarquista que tomou conta do país, bem como a eliminação total da
politização geral do povo ou de parte dele.
Noves
fora nada os namoricos deslumbrados do governo brasileiro com Cuba, Coréia do
Norte, Mahmoud Ahmadinejad do Irã e outros tantos meninos maluquinhos.
Alas
das forças armadas já começam achar que isso cheira muito ruim.
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