JORNAL PENA LIVRE

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segunda-feira, 29 de março de 2010


















ABSURDOS DA VIDA IGNORANTE DAS MASSAS

Duas crianças foram abandonadas em meio a entulhos e lixo na região central de São Paulo na noite de domingo (28). A mais nova, uma menina de 2 meses, estava dentro de uma sacola fechada, deixada no chão. Os pais são moradores de rua.
Retrato falado de uma era. A vida valendo menos que um par de baratas de esgoto.
São tantos os casos.
Crianças abandonadas em rios, lagos, à beira das estradas, no mangue, lixo, esgoto, na descarga da privada. Menores esquecidos dentro do carro torrando ao sol, deixados em casa enquanto os pais foram dançar e quando voltam estão mortos.
Este é o retrato mais feroz da indiferença, mais cruel e mais desumano.
Não há forma prevista em minha mente para punir um pai e uma mãe que perpetram esse tipo de atrocidade pior que o tumor negro do holocausto.
Por outro lado, há de se ressaltar a matança de crianças ultimamente tem sido reflexo perverso da atual sociedade mundial, não há porque isolar somente a brasileira.
Cães e galinhas tem mais valor comercial que os pequenos. Crianças são transtornos para os que se acham na mais absurda e desorientada estupidez da ignorância e para aqueles que só tem mal e porcamente a roupa do corpo.
Os pais das duas crianças acima são moradores de rua. Provavelmente também nascidos nas ruas onde uma marmita quente pode valer uma centena de vidas.
A face mais cristalina da sobrevivência.
Não há espaço para mais uma boca. Mata-se o excesso pura e simplesmente tal como no reino animal.
Descarta-se o “lixo” humano como sendo um trapo sujo e maltrapilho.
Ao redor da maior cidade do Brasil, fruto do trabalho e da riqueza que uma sociedade organizada amealhou, conseguimos perceber as mais incontestes selvagerias típicas dos animais das savanas africanas.
Não ligamos para isso. Afinal de contas é mais importante ajeitar os cabelos no espelhinho do carro evitando olharmos de lado e assistirmos o horror da vida citadina reservado para os que não tem nada. Literalmente nada de material, espiritual ou intelectual.
Assemelhamo-nos obrigatoriamente à classe mais baixa da escala da vida talvez protozoários ou bactérias.
Nada adianta darmos de ombros e respirarmos aliviados quando o sinal abre e seguimos em frente na cidade grande, dentro do nosso universo mecanizado, ar condicionado e música clássica ambiental. Imaginando ser culpa terceirizada. Não é não.
Quando pais e mães assassinos são levados às Delegacias responder sobre esse tipo de crime cometido de abandonar seus filhos, percebemos que estas pessoas já não mais pertencem à categoria dos seres humanos.
São classificados como zumbis civis, sem eira nem beira, estudo, livro ou teto.
Parias de um magnífico ajuntamento urbano que não liga mais a mínima para a vida.
Mata-se por dois tostões porque não fazê-lo de graça não?
Cada vez que uma criança é localizada nos lixões dá para imaginar que o nosso futuro é que está sendo banido e o nome do país pichado com sangue de crianças inocentes.
Qual o artigo do código penal que podemos enquadrar um crime assim?
Assassinato a sangue frio? Terrorismo? Abandono de menores? Maus tratos?
Não há código penal para isso, visto ser a sociedade a culpada. Ela que deveria sentar-se no banco dos réus por inépcia flagrante de abandono ao próximo estropiado e sem onde cair morto.
O governo é o povo. Não vale culpar o presidente, governador ou o prefeito. Nós colocamos no poder as quadrilhas que nos roubam e provocam cenas dantescas. Gente miúda achada dentro de sacos plásticos no lixão da cidade junto com ratos e baratas ou descartada no rio como entulho.
Gasta-se mais com anúncios de porcariada que os governos inauguram sem mesmo ter sido colocado um mísero tijolo na obra. Nos filmes promocionais gente sorrindo, velhinhos alegres saltitando a buscar sua pensão no banco, um mar de rosas para obter nosso voto.
Do outro lado da força, a cidade joga seus trastes nas ruas à mercê da sorte.
Debaixo dos tapetes metropolitanos e de grandes cidades encontramos o descaso puro misturado ao lodo da indiferença.
Crime pior que esse eu não conheço. Por causa dela milhões já morreram. O descaso das nações aliadas na Segunda Grande Guerra deixou rolar solto a matança criada pelo Terceiro Reich. Churchil, Roosevelt e Stalin sabiam dos campos e nada fizeram preferindo fumar o charuto de Rialta à espera de ajuda divina que nunca veio.
Covardia da não ação e o resultado: aproximadamente seis milhões de pessoas foram para o forno e se dissiparam no ar junto com a fumaça da nossa culpa concorrente que gerações futuras ainda terão que resgatar e pedir absolvição.
Nossas cidades grandes repetem os campos de concentração. Para mim não há distinção entre Bergen Belsen, Treblinka, Aushvitz, Tecla, Maltauzen, Natzweiler, Neuengamme, Gross-Rosen, Stutthof, Lublin-Majdanek, Hinzert, Vught, Dora e os centros urbanos desumanizados que provocam o tipo de crime que abre o artigo de hoje.
A única coisa que falta, talvez, seria um uniforme nazista e um bigodinho a la Hitler para cada um que representa a sociedade, como um todo, e não despende um segundo ou um centavo sequer para eliminar casos assim de uma vez por todas. Ao invés disso, o poder na metrópole de São Paulo prefere, por exemplo, construir um novo passeio no Morumbi para cães dos abastados da área.
Nem Rogério Magri em sua façanha de dizer “cachorro também é gente” saberia explicar como pode isso acontecer.
Como um todo a saída para isso passa por um lugar tão simples que poderia ser ao alcance de todos, mas não o é. Refiro-me ao banco da escola.
Tirar essa gente da rua e dar a cada um a oportunidade de crescer, embora renda votos de menos sendo melhor festejar a inauguração de um penico comunitário.
Culpa de uma sociedade que escolheu ter mais praças com árvores frondosas, menos buracos no asfalto para os bólidos que dirige, pontes, viadutos limpos e pintados e a nova praça de cachorrinhos brancos com fitinha no pelo com seus donos amestrados.
Curiosamente na cidade de São Paulo há mais pethouses ou petshops do que escolas.
Mau sinal.
Talvez tenhamos optado pelos cães definitivamente.
Que pelo menos não façam xixi em cima dos pobres que sobrevivem na rua da indiferença. Só faltava isso.

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